Falar em autoajuda sempre me deu arrepios de horror. A palavra é tão terrível que eu fui procurar a grafia correta no Google e descobri que com as novas regras de ortografia ela virou uma palavra só (diz a internet que “o hífen passou a ser utilizado apenas quando o prefixo termina com a mesma letra que inicia a próxima palavra, ou quando a segunda palavra começa com a letra “H””).
Mas nesse momento de desespero, em que eu me encontro perdida (piadinha intencional), aconteceu uma sequência de coisas que me fez escrever esse post nesse dia 14 de Janeiro. Vamos começar do começo.
Final de 2020, logo que eu cheguei em Portugal, eu fiz um post no Facebook contando para os meus “facefriends” sobre a minha dificuldade em descobrir o que eu gostaria de ter como trabalho, que tipo de coisa eu gostaria de fazer. As respostas foram incríveis e me ajudaram muito. Mas uma amiga muito querida e de muitos anos, a Carol, me mandou o contato de uma amiga dela que estava morando na Itália, tinha mais ou menos a minha idade e também passou por um momento parecido com esse meu, de mudar radicalmente de carreira.
Sem vergonha nenhuma eu entrei em contato com essa pessoa, uma mulher maravilhosa chamada Emília. Nos comunicamos basicamente por mensagens de voz de whatsapp, mas em uma das mensagens em que ela me contava como foi esse processo de mudança, ela disse algo que me marcou muito, que no momento em que ela não sabia o que fazer ela acabou apelando a recursos de autoajuda, e pela forma como ela falou, eu entendi que como eu, ela nunca foi muito adepta desse negócio. Mas ela me falou de uma coach brasileira famosa chamada Paula Abreu, que tinha alguns cursos online e que a tinha ajudado quando ela precisou.
Bom minha gente, como vocês sabem, na hora do desespero vale qualquer coisa. Fui atrás da Paula Abreu e achei um curso ou coach online chamado Paixão: Modo de Usar. É um curso de seis etapas, parte de um programa que ela tem chamado Escolha sua Vida. O Paixão: Modo de Usar é especificamente focado para pessoas que estão muito infelizes com sua carreira e não sabem o que fazer e que ainda não conseguiram enxergar seu propósito nessa vida.
Decidi dar uma chance. Melhor coisa que eu poderia ter feito. Cada vídeo dela que eu assistia eu tinha a sensação de que ela estava falando diretamente comigo. As histórias pessoais que ela contava eram as minhas histórias, as angústias dela eram as minhas angústias. E eu, que sou terrível para cursos online, começo mil e não termino nenhum, segui esse até o fim, fiz todos os exercícios e escrevi tudo que ela sugeria escrever e foi incrível. Finalmente consegui achar meu propósito e descobri o que eu quero fazer (mas ainda não sei o como, então falarei disso mais pra frente).
Sempre que possível, Paula fala muito do guru dela, um tal de Gary Bishop, aparentemente um Deus no mundo da autoajuda. Já que eu estava nesse clima de tentar de tudo, ontem eu resolvi ouvir um podcast desse cara. Ele tem uma série de podcasts chamada “Unfuck Nation” e eu escolhi um ao acaso.
Deixa eu começar dizendo que no primeiro minuto do negócio eu já detestei o cara. Achei ele de uma arrogância sem fim (e olha que ele mal tinha começado a falar), mas essa sensação continuou até o fim. Detestei mais ainda porque o cara é obcecado com peso e corpo, o podcast era sobre resoluções de ano novo e todo exemplo que ele dava começava com perder peso, usar biquini, malhar, etc, já fiquei puta. E pra completar ele faz um coisa que me deixa maluca, ele generaliza o ser humano. O tempo inteiro ele fala que o ser humano é assim ou assado, faz as coisas por esse ou por aquele motivo e por aí vai, como se todas as pessoas no mundo agissem e pensassem da mesma maneira. Resumindo, achei o cara um babaca.
Porém, ele falou algumas coisas no podcast que acabaram me tocando (alguns diriam que não foi por acaso que eu acabei escolhendo justamente esse episódio). Uma das coisas que ele falou é que 2020 foi um ano terrível e cabe a cada um não deixar que ele se arraste dentro de nós e sugeriu um ritual pra deixar esse ano maldito pra trás e começar 2021 diferente.
Ritual sim é uma coisa que eu amo. Adoro um banho de sal grosso, aromaterapia e várias outras coisas do tipo, então decidi criar o meu próprio ritual pra deixar 2020 para trás. Normalmente eu faço isso na noite de ano novo, mas esse ano foi tão diferente que fomos dormir antes das 10 da noite, acabamos não fazendo nada especial.
Então hoje de manhã eu decidi me despedir de 2020. Sempre deixo aqui no meu escritório um potinho com sal grosso, então acendi um incenso lá dentro, desliguei meu celular, bati um papo com meu anjo da guarda e comecei a escrever tudo que eu queria deixar pra trás em 2020, acontecimentos, sentimentos, pensamentos, tudo (isso que o tal do Bishop sugeria fazer). No começo eu não tava dando conta de escrever tudo que vinha na minha cabeça, e escrevi tudo, mesmo que fossem coisas repetidas ou que não pareciam tão importantes, botei tudo no papel. Depois de uns 15 minutos os pensamentos começaram a desacelerar, eu já não tinha mais tanto o que escrever até que finalmente eu fiquei alguns minutos olhando pro papel sem ter nada mais para colocar ali. Nesse momento eu escrevi o mantra que ele recomendou “declaro aqui encerrado o ano de 2020”, só isso.
Ia parar por aí, mas na hora me veio a ideia de queimar esse papel no meu potinho de sal grosso e despejar tudo pelo ralo, para ir embora de uma vez e foi exatamente isso que eu fiz. Queimei o papel, agradeci e mandei tudo embora.
Foi libertador. Hoje foi o dia em que eu oficialmente me despedi de todas as merdas que aconteceram em 2020, de todos aqueles sentimentos e pensamentos negativos, foi tudo pelo ralo para não voltar mais.
Lavei bem o potinho, coloquei um sal grosso novinho, uma pimentinha, algumas ervas e um óleo essencial de laranja, voltei pro meu escritório e tive outra conversa com meu anjo da guarda (que pode ser um mentor, uma energia, uma luz, Deus, o que você quiser), dessa vez focando nas coisas que eu quero para 2021. Acendi mais um incenso e coloquei até um sorriso no meu potinho, que tava parecendo meio triste.

E hoje começou meu 2021. Limpo, com novos horizontes, muito mais amplos, para serem explorados. A sensação de liberdade é física mesmo, eu senti um peso saindo de mim. A física quântica diz que tudo é energia, inclusive nós, então faz todo sentido essa sensação de leveza quando a energia de 2020 saiu de mim. E quando, no título, eu escrevi fé, eu não me referi à fé religiosa, mas ao ato de acreditar no desconhecido, naquelas coisas que a gente sente, mas não consegue explicar.
E escrevi tudo isso pra dizer que, se você ainda sente que 2020 está presente em você, tente esse ritual. Ou tente outro que você mesmo inventar, o ritual em si não é tão importante, basta acreditar.
Mas continuo odiando autoajuda.
Um comentário sobre “Fé, rituais e a p**** da autoajuda”