Escrevo esse desabafo com um cheiro horrendo de Salompas nas costas.
Decidir ter filhos é um negócio difícil. Quando você é jovem tem a energia, mas não tem o dinheiro e ainda quer aproveitar a vida. Lá pelos 30 e poucos você tem o dinheiro, ainda têm energia, mas quer focar na carreira. Chegando perto dos 40 você tem o dinheiro, tem o tempo, mas já não tem a energia. Só que aí é tudo ou nada, porque se for pra ter filho tem que ser enquanto o corpo ainda pode. Claro que esse não é o caso de todo mundo, mas foi o meu.
Quando eu tinha meus vinte e poucos anos, ter filhos nem passava pela minha cabeça. Eu queria viajar, trabalhar, ganhar dinheiro, sair com os meus amigos e viver uma vida livre e feliz. O que aconteceu.
Quando eu cheguei nos 30 ainda estava trabalhando, ganhando dinheiro, viajando, saindo e vivendo livre e feliz. Casei com 35 e aí queria sair e viajar com o meu marido, ainda não era hora de filhos.
Aí fui chegando perto dos 40, já mais estabilizada, saindo muito menos, com dinheiro guardado, mas já cansada. Só que se eu não tivesse um filho naquela hora, ia ficar muito mais difícil e talvez impossível depois.
E aí eu tive minha filha com 39, quase 40. A gravidez foi uma delícia, não senti nada além da barriga crescendo e a bebê chutando.
Hoje eu estou com 41, com uma filha de um ano e meio cheia de energia. Estou confinada com ela em casa (sim, em casa, não podemos sair para parquinhos, praias, nada), tendo que abaixar e levantar cem vezes pra brincar, carregar ela no colo, empurrar o carrinho nas calçadas horríveis aqui da vizinhança, apartar a confusão cachorros x criança, ler mil vezes o mesmo livro com ela no meu colo e todas essas coisas que a gente faz com uma criança dessa idade.



Eu acho que a vantagem é que, aos 40, eu levo a maternidade de forma muito mais leve, sem estressar por pequenas coisas. A experiência me ajuda a saber com o que eu devo me preocupar e o que é confusão de mãe de primeira viagem.
Mas todo dia eu tô com dor. Doem as costas, as pernas, os pés, os olho, as mãos e doem as costas novamente. As costas nunca param de doer. Relaxante muscular aqui em casa vai que nem café.
E às vezes eu me pergunto como seria a minha vida se a Lara tivesse nascido quando eu tinha meus 30 anos (não posso imaginar que eu teria outro bebê que não fosse a Lara). E eu não consigo nem pensar, ela não caberia na minha vida naquele momento. Ela veio no momento certinho e ainda bem que veio!
Mas hoje são as costas que doem. Nesse momento Paulo Eduardo levou a pequena para passear, na volta ela janta, toma banho e dorme. E eu conto os minutos para ela ir dormir, para me sentar com o meu vinho e o meu relaxante muscular na frente da TV, tentando esquecer que amanhã começa tudo de novo.
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