Fiquei pensando se eu deveria escrever sobre isso ou não, mas considerando que eu fiz um mestrado em Relações Internacionais com especialização em Paz e Resolução de conflitos, e que a guerra está acontecendo aqui do lado, decidi que sim.
Começo com duas afirmações que você provavelmente não vai achar em livros.
1 – Todas as guerras acontecem por poder e/ou medo, muitas vezes por medo de perder o poder.
2 – São, na sua grandessíssima maioria, causadas e iniciadas por homens brancos (supostamente) héteros que ficam putos quando não conseguem o que querem (pelo menos fora do continente africano).
Imagino que muitos homens brancos (supostamente) héteros vão ler isso e falar “mas não é todo homem branco hétero” ou “mais uma feminista querendo botar a culpa nos homens”… e para vocês eu digo, façam suas pesquisas e voltem aqui pra me contar.
Vamos então à essa guerra específica, iniciada por – adivinhem – um homem branco hétero e mimado, que se sentiu traído por um conjunto de outros homens brancos e héteros (em sua maioria).
Os motivos de uma guerra nunca são fáceis de explicar, porque sempre existem muitos fatores envolvidos além do que está na superfície, mas vou resumir aqui, com as minhas palavras e a minha interpretação, o que resultou nessa barbárie.
A OTAN foi criada durante a Guerra Fria para evitar os avanços socialistas da URSS na Europa e consequentemente no mundo. Com o fim da Guerra Fria, a situação mundial mais ou menos se acalmando, e visando a derrubada do muro de Berlim, a OTAN prometeu à Rússia, em diversas situações, que não iria mais incluir países europeus em seu grupo, principalmente os que fizessem fronteira com a Rússia.
A OTAN abertamente descumpriu esse acordo, trazendo Polônia, Hungria e alguns outros países para o seu lado. E mais ou menos recentemente a OTAN demonstrou interesse e começou a sondar a Ucrânia também.
A Ucrânia tem uma longa história de conflitos com a Rússia, inclusive existem partes da Ucrânia em que as populações são majoritariamente de cultura e idioma russos, sendo a Criméia a principal delas.
O Putin, que claramente é um louco, enxergou essa abordagem da OTAN à Ucrânia como uma ameaça direta a seu país, pois além dos conflitos já existem, a Ucrânia tem uma grande fronteira com a Rússia, em um local que poderia ser muito estratégico para a OTAN.
Se sentindo intimidado e com medo de perder seu poder, Putin decidiu partir para a guerra contra a Ucrânia, guerra essa que ele já vinha ameaçando há muito tempo.
E como eu falei lá no começo, guerras sempre acontecem por medo e/ou por poder e são majoritariamente causadas e iniciadas por homens brancos (supostamente) héteros, e essa não foi diferente
Não sei como está o alcance das notícias e dos efeitos da guerra no Brasil, mas aqui em Portugal isso está muito forte, por vários motivos.
Primeiro que, Portugal, assim como grande parte dos países da Europa, já se posicionou contra a Rússia e está se mobilizando para apoiar tanto os ucranianos que precisarem de asilo quanto os que permanecerem no país. Por todos os lados há pontos de recolha de doações, que estão sendo enviadas para a Ucrânia quase que diariamente, são roupas, produtos de higiene, alimentos, cobertores, medicamentos e várias outras coisas.
Segundo que as notícias aqui estão chegando com muita frequência e é muito assustador estar assim tão perto de uma guerra. E pior, uma guerra encabeçada por um lunático imprevisível.
O que nos leva ao motivo maior de pânico. Se esse homem decide explodir uma usina nuclear de verdade (porque ele já atingiu uma, mas não foi para explodir), nós aqui seremos atingidos, e não teremos tempo de fazer nada.
Estamos vivendo em um estado de ansiedade recorrente, sem ter muito o que fazer, além de doar tudo o que pudermos para a população ucraniana. Mas outro dia eu li um artigo muito bom do Huffpost, que falava justamente sobre como podemos continuar fazendo as coisas mundanas do dia a dia sabendo que tem uma guerra do nosso lado.
Não vou resumir tudo porque o artigo era grande, mas basicamente ele sugeria que as pessoas não fiquem lendo notícias o tempo inteiro e não tentem se envolver com histórias individuas, leiam os fatos e só. E que toda essa ansiedade não ajudava em nada a resolver a situação, se você parar a sua vida porque tem gente morrendo no país vizinho, as pessoas vão continuar morrendo e você só vai trazer mais preocupações para outras pessoas que estão ao seu lado.
É isso que estamos fazendo aqui, fazendo nossas doações, vivendo a nossa vida e, principalmente, garantindo que estamos criando a Lara da melhor maneira que pudermos, para que ela, junto com outras crianças da geração dela, possam construir um mundo muito melhor do que esse em que a gente vive hoje. O que, no dia de hoje, não parece ser algo muito difícil, porque pior do que está vai ser difícil ficar.