Cheira Meia

A história do Cheira Meia começou lá pelo ano de 2006. Eu mudei de emprego e, minha nova colega de trabalho, preocupada com a minha solteirice, resolveu me apresentar um amigo.

Combinamos uma happy hour perto do meu trabalho (ali na Berrini para quem é de São Paulo), o amigo apareceu, minha amiga foi embora, acabamos a noite no apartamento dele no Guarujá.

Depois disso nós falávamos quase todos os dias e nos víamos com frequência, por mais ou menos uns dois meses. Até que um dia eu fui em um churrasco e ele ficou de me ligar para sairmos depois. Não ligou. Nunca mais ligou.

Naquela época não se falava em ghosting, mas foi isso. Só que o Cheira Meia era um alma penada.

Um ano depois ele reapareceu, meio que sem querer, nos encontramos em um bar em Moema por acaso, ele veio falar comigo como se nada tivesse acontecido. Eu também não toquei no assunto do passado e começamos a sair novamente.

Depois de umas duas semanas eu contei para ele que meu pai vinha para São Paulo e ele quis conhecer o meu pai. Achei meio estranho, mas sei lá, saímos pra jantar os três. Eu podia ter ido embora, porque ele só queria saber das dicas de empreendedorismo que meu pai tinha para dar. Desconfio que ele já seguia meu pai no Facebook e viu ali uma oportunidade de consultoria gratuita.

Um mês depois do nosso reencontro, tudo ia bem, continuamos saindo sem grandes emoções. Até que, em uma sexta-feira a noite, ele foi para a minha casa, a gente pediu uma pizza e, quando a pizza chegou, minha amiga Anna me ligou dizendo que o carro dela tinha sido roubado e me pediu para ir com ela na delegacia.

Fomos os dois encontrá-la lá em Interlagos e a levamos na delegacia. Sexta-feira a noite, delegacia em Interlagos, o serviço não estava eficiente. Os policiais estavam jantando e assistindo novela e pediram para a gente esperar.

Não tinha muito o que fazer, mas enquanto esperávamos, Anna e eu ficamos rindo da situação, fazendo piadas e tirando selfies. Ele não gostou.

Enquanto isso, uma outra amiga, que estava indo para Londres, me mandou uma mensagem perguntando se eu podia emprestar um par de botas para ela. Falei pra ela passar lá no meu ap que eu pediria para o porteiro abrir pra ela pegar as botas.

Quando finalmente conseguimos sair da delegacia, deixamos minha amiga na casa dela e voltamos para o meu apartamento. Ao chegar, minha amiga das botas tinha comido a nossa pizza.

Eu dei risada, ele ficou puto. Falou que eu não levava nada a sério, que as minhas amigas não o respeitavam e foi embora. Pelo menos dessa vez não foi ghosting.

Foi nessa época que uma outra amiga, a Verônica, passou a chamá-lo de Cheira Meia. Ela dizia que pra ser louco daquele jeito ele só podia cheirar meia suada de atleta.

Segui minha vida. No final de 2008 (quase um ano depois que Cheira Meia foi embora indignado da minha casa), eu fui para Machu Picchu com uns amigos, fizemos a trilha Inca e a coisa toda. Não sei como Cheira Meia ficou sabendo, mas ficou muito interessado.

Apareceu na minha casa com vinhos e flores. Deixei ele subir. Começamos a sair novamente. Na semana seguinte ele até me pediu para chamar os amigos com quem eu tinha viajado para um almoço na minha casa, ele queria cozinhar para nós. Chamei, almoçamos, foi tudo bem.

Umas duas semanas depois veio meu aniversário, dia 20 de dezembro. Eu iria passar o fim-de-semana em Cruzeiro (uma cidade do interior) e ele disse que queria ir também. Dormiu na minha casa no dia 19 e, no dia 20 de manhã, enquanto eu arrumava a minha mochila, ele me disse que tinha acabado de receber a notícia de que um amigo dele tinha sofrido um acidente de moto naquele momento e que ele tinha que ir embora.

Sumiu mais uma vez.

O tempo passou, eu mudei pra Austrália, depois pra Guatemala. Fiquei sabendo que ele casou, teve uma filha, separou. Vida que segue.

Eis que um dia, estava eu de volta ao Brasil, quando ele me manda uma mensagem no Facebook. Disse que tinha pensado muito em mim, e que estava querendo fazer algum trabalho social e perguntou se eu poderia ir com ele até um orfanato em Taboão da Serra porque ele queria fazer alguma coisa para ajudá-los.

Achei nobre da parte dele. Fomos. Veja bem, não nos víamos há uns 5 anos. Ele me pegou em casa e fomos no carro dele até Taboão da Serra. No caminho ele me explicou o que queria fazer, e me convidou pra almoçar depois da visita.

Entramos no orfanato, conversamos com a dona, ele fez perguntas, falou como queria ajudar e saímos. Ao entrar no carro ele me disse que me levaria a um restaurante especial.

No meio do caminho ele me disse que lembrou que tinha um compromisso com a filha e que não poderia mais me levar pra almoçar. Me levou para casa e eu nunca mais o vi.

Queria muito saber o que é da vida dessa pessoa hoje, mas perdi todo o contato.

Mas a melhor parte dessa história é o fato de que ele se tornou o Cheira Meia, porque eu não consigo encontrar jeito melhor de descrevê-lo.

E um beijo grande à Nossa Senhora dos Dates Ruins.

5 comentários sobre “Cheira Meia

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