Esse ano de 2020 foi muito estressante pra todo mundo. Cada um sobreviveu como pôde. Eu resolvi que era um bom momento para mergulhar numa onda de auto-conhecimento.
Sei lá o que mais eu queria saber sobre mim, mas tentei várias coisas, meditação, corrida, observar cogumelos, dormir mais, dormir menos, ler, pesquisar, fiz de tudo. Não sei o quanto tudo isso teve algum impacto, mas o que ajudou mesmo foi (e tem sido) a terapia.
Mas aqui, morando no litoral, eu decidi começar a andar todo dia na praia. Como é inverno e as praias estão vazias, é super tranquilo. E eu comecei a andar imaginando que com aquela natureza linda, o silêncio quebrado pelo barulho das ondas ao fundo e essas coisas poéticas todas, eu ia conseguir achar respostas para as perguntas que estão me angustiando e me causando muita ansiedade.
E todo dia eu ando pela praia olhando o mar, as conchas, as águas-vivas, as algas, as marcas de pés e patas na areia, a sujeira que o mar joga pra fora e tudo mais. E cada vez que eu olho pra essas coisas eu tento ter um pensamento profundo e inteligente.
Eu olho para uma concha e penso “por onde será que essa concha já passou? Será que ela tem vida dentro dela? Será que tinha? Será que é possível fazer alguma coisa com essa concha?”. Aí olho para uma água-viva e penso “será que ela está morta? Será que cumpriu seu ciclo de vida? Será que a morte dela beneficia algum outro ser? Será que ela está dormente e volta a viver quando o mar a leva de volta?” E assim vai. Fico lá, quem nem louca, querendo achar um significado em cada coisa que eu vejo pela praia.

Obviamente que eu não acho significado em nada e na maioria das vezes fico rindo de mim mesma, que tô lá todo dia tentando achar um sinal do universo num pedaço de madeira molhado que tá boiando na beira do mar. Que porra de sinal é esse? Quem tá no mar é pra se molhar? Boiando você chega na praia? Melhor um pedaço de madeira na areia do que um barco inteiro no fundo do mar? Ou será que aquele pedaço de madeira quer me mostrar que eu estou deixando a vida me levar? Mas e o Zeca Pagodinho?
E a cadeia de pensamentos é infinita e vai ficando cada vez pior e cada vez mais engraçada.
E isso me lembrou muito de um livro que eu li e adorei chamado Wild: From Lost to Found on the Pacific Crest Trail (acho que não tem em português) e tem o filme também, de mesmo nome, que não é tão bom, mas serve. No livro a mulher está na merda, cheia de dúvidas e problemas e ela perde a mãe. Aí ela decide fazer uma trilha na Costa do Pacífico dos Estados Unidos que vai do México ao Canadá. Ela nunca tinha feito trilhas, mas decidiu que ela precisava fazer isso pra se achar. E basicamente tudo que ela via na trilha ela achava que era um sinal, e ela ia andando sozinha e pensando na vida e esperando aquele momento de iluminação que ela tinha certeza que ia acontecer e nada. Não vou contar o fim porque vale muito a pena ler. Mas hoje eu fiquei olhando pra uma concha e rindo sozinha lembrando de quando a autora do livro viu uma raposa na trilha e achou que era a mãe dela encarnada que tava ali pra dar uma mensagem, e a mensagem não vinha, assim como a minha concha que também não me disse nada.
Mas a coisa é que todo dia tem gente na praia sentada olhando pro mar, por muito tempo! Eu queria saber o que se passa na cabeça de pessoas que contemplam coisas. Eu não tenho a habilidade de ficar olhando pra um negócio (mar, lua, céu…) e não pensar em nada, ou só apreciar a beleza, ou sei lá o que essas pessoas fazem. Toda vez que eu tento contemplar me dá fome e eu começo a pensar em comer alguma coisa.
E sigo sem respostas, mas terminei a caminhada ao som de Zeca Pagodinho.