O que você faria?

Fazia tempo que eu não contava uma história de RH e essa semana me lembrei desse momento interessante que eu vou contar aqui.

Essa história se passou em 2008 eu acho, quando eu trabalhava em uma seguradora.

O mundo das seguradoras é muito interessante. Todo mundo se conhece e, normalmente, quem começa uma carreira em seguradora segue nesse meio pelo resto da vida, é difícil alguém sair para ir para outro mercado.

Isso faz com que nas seguradoras existam muitas pessoas com mais de 60 anos, que conhecem tudo e todos do mercado e são absolutamente indispensáveis para a operação. Esse caso curioso se passou com um desses senhores, que trabalhava na seguradora naquela época.

O nosso RH lá era super pequeno, éramos em 4 ou 5 pessoas. Eu era Business Partner de vendas, cuidava de projetos e de comunicação interna e a minha amiga Luciane era a Business Partner das outras áreas da empresa. A área de vendas era cheia de gente fina, elegante e sincera, as áreas de operações nem tanto, era mais um pessoal meio arrogante, que achava que sabia de tudo (e do mundo dos seguros eles sabiam mesmo).

Nosso prédio ficava na Berrini (para quem conhece São Paulo) e tínhamos três andares se eu não me engano. Era muito comum olharmos pela janela e vermos oferendas em uma das entradas da Berrini para a Marginal que ficava na frente do prédio, fato esse que não tem nada a ver com a história, mas eu achei legal contar.

Voltando, a sala do RH ficava bem no fundo de um dos andares, para chegar lá vindo dos elevadores tínhamos que passar por várias baias do pessoal de operações. A Luciane e eu começamos a trabalhar nessa empresa juntas, a gente não se conhecia antes, mas ficamos amigas de cara.

Então logo nos nossos primeiros dias a gente começou a perceber que em uma certa parte do andar tinham muitas baias vazias enquanto que do outro lado as pessoas estavam meio amontoadas. Também notamos que na parte vazia se sentava um senhorzinho baixinho e simpático, que ficava isolado de todo mundo.

Ficamos morrendo de dó, mas como a gente não conhecia ninguém e nem sabíamos direito como as áreas eram organizadas, a gente deixou pra lá.

Nessa época nós estávamos contratando muita gente, a empresa estava crescendo e em 2 ou 3 meses o andar começou a encher, não tinha mais jeito de deixar aquelas baias vazias, então os funcionários novos foram colocados lá.

Depois de uma semana um dos funcionários novos veio até o RH conversar com a Lu. A gente via que ele estava super constrangido, chegou meio de cabeça baixa, se sentou do lado dela e começou a falar bem baixinho algo do tipo “olha, desculpa incomodar, eu não quero ser inconveniente e nem causar confusão, mas é que está muito difícil trabalhar do lado do senhorzinho porque ele usa um perfume muito forte”.

Na hora a gente entendeu porque os funcionários antigos não queriam sentar perto dele e botaram os novos lá. A Lu foi falar com o nosso chefe para explicar a situação e descobriu que esse senhorzinho era de extrema importância para a empresa, mas que ele tinha um segundo trabalho, ele fabricava perfumes.

Dizer para um funcionário que ele fede já é muito complicado, mas dizer para um funcionário que fabrica os próprios perfumes que ele fede é muito mais.

Passamos um tempo pensando no que fazer e decidimos que íamos mandar um e-mail para a empresa inteira falando sobre código de vestimentas (blahhhh) e conduta no escritório e isso incluiria uma parte sobre o uso de perfumes fortes que pudessem incomodar os coleguinhas.

Escrevi um e-mail todo engraçadolho (a empresa era super informal) e mandei.

Passado algum tempo o senhorzinho do perfume veio até o RH. Sentou-se na sala e, todo orgulhoso, começou a contar sobre como ele produzia os próprios perfumes e até pediu para a gente cheirar o pescoço dele, o que era extremamente inapropriado, mas a gente veio a descobrir que os costumes naquela seguradora eram bastante peculiares.

Aí ficou mais difícil, porque a gente criou um e-mail inteiro só por causa dele sem pensar que ele não se achava fedido e não achava seus perfumes ruins.

Não satisfeito, no dia seguinte ele ainda nos trouxe umas amostras de perfumes e pediu para a gente passar (sim, inapropriado), e eram todos horrendos, com cheiro de flor morta, uma coisa fora do comum.

Nesse mesmo dia, os gerentes dos funcionários novos vieram reclamar que eles nunca estavam na mesa, que era impossível encontrá-los. Os funcionários por sua vez, alegavam que era impossível ficar na mesa do lado do senhorzinho dos perfumes.

Agora pare aqui e pense por uns segundos no que você faria se estivesse no lugar do RH

a) Colocaria o senhorzinho em um lugar mais isolado

b) Faria uma rotação de funcionários sentando perto dele

c) Teria uma conversa com o senhorzinho sobre os perfumes dele

d) Alguma outra coisa

.

.

.

Pois a ideia que tivemos foi a “d”. Junto com os gerentes instituimos que as pessoas não teriam mais lugares fixos, quem chegasse primeiro escolheria onde sentar.

Vocês acham que deu certo? Pensem

.

.

.

Não deu, pois o senhorzinho chegava um pouco mais tarde então as pessoas começaram a chegar mais tarde pra entrar depois dele para ver onde ele sentou. Chegou um momento que não tinha ninguém no andar antes das 10 da manhã.

Com as reclamações de que estava todo mundo entrando muito tarde a Lu perdeu a paciência e mandou o senhorzinho parar de usar perfume para trabalhar. Ele ficou magoado, mas parou e a paz voltou a reinar.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s